Palavras soltas, uma vez incompreendidas, veladas ao vento. Fizeram-se eterno buraco n’alma e aprofundou-se com o tempo, corroeu e tornou-se planta a partir da semente, essas tuas palavras. Brotam de um modo brando, contudo rapidamente dilacera com o som estridente da voz enunciada para assim fazerem-se:
Confusas, abstrusas, indigestas.
- Ah, por que tu não escreves ao invés de proferi-las a mim?
- Mas assim seria formalizado tudo que dirijo a ti e tu iria conservá-las, as minhas palavras, para si.
- Conservaria sim, se importantes fossem. O que me agrava, me consterna, me altera, me destrói jogo fora. Pra quê lapidar? Papel tu rasgas, mas se tu me falas palavras incompreendidas de tanto tentar entendê-las angustiar-me-ia e o vento, o meu amigo, ousa uivá-las continuamente em meu ouvido ameaçando-me a viver com elas, e vivo. Por isso, escreva.
Sem saber o que dizer o pobre rapaz emudeceu, baixou a cabeça e olhou para seus pés que calçavam pobres sapatos velhos, naquele momento achou-os demasiadamente belos e pensando neles poderia puxar conversa sobre como o setor calçadista estava crescendo naquela região para diminuir a tensão que tornara-se o ambiente, entretanto fizera o que qualquer pessoa sem razão e envergonhada faria; virou as costas e seguiu viajem sem jamais olhar pra trás.
Sem saber o que dizer o pobre rapaz emudeceu, baixou a cabeça e olhou para seus pés que calçavam pobres sapatos velhos, naquele momento achou-os demasiadamente belos e pensando neles poderia puxar conversa sobre como o setor calçadista estava crescendo naquela região para diminuir a tensão que tornara-se o ambiente, entretanto fizera o que qualquer pessoa sem razão e envergonhada faria; virou as costas e seguiu viajem sem jamais olhar pra trás.
Passou-se então muito tempo após esse diálogo, tempo esse que ele não escreveu, por falta de coragem, e nem lançou-as ao vento, guardou-as somente para si e das palavras morreu. Elas criaram raízes, rancor e animosidade, que cresceram dentro de si e com elas não conseguiu viver, difícil emudecer quando queres apenas falar, logo delas faleceu.
Mas mesmo assim elas tornaram-se incompreendidas, pois nunca fizeram-se ouvidas, lidas. E assim as palavras viveram e vivem até hoje com o vento que uiva lá fora e bate violentamente na janela do meu quarto.
que texto maravilhoso
ResponderExcluirSeu blog é todo lindo! O layout, os textos, eu estou encantada!
ResponderExcluirTambém adoro escrever, e eu estou te seguindo!
Se der pra retribuir,
http://mmmorango.blogspot.com
seu blog é belíssimo, é um prazer visita-lo
ResponderExcluirmuito obrigada por estar me seguindo
fico muito feliz de ter você por lá
beijos linda
Lindo texto, minha amiga. Palavras são assim mesmo, têm vontade de sair, procriar, como o vento. Retidas, retorcem-se em si mesmas e criam um vácuo que detrói as margens de seu apoio.
ResponderExcluirAbração, teu blog já está em meus RSSs e agora o acompanharei de perto.
Acho que às vezes eu também fico muda, como o pobre rapaz.
ResponderExcluirAdoro ler-te Jú, um beijo.
http://amar-go.blogspot.com/
Como disse, certa vez, Carlos Drummond de Andrade, a luta com as palavras é a luta mais vã que existe.
ResponderExcluirLi teus textos e gostei,pois são de excelente qualidade, há muita poeticidade neles.
As palavras têm o poder de criar, mas também o de destruir. Guardá-las para si pode ser insuportável.
ResponderExcluirMuitas vezes elas são incompreensíveis aos ouvidos alheios e só nos resta jogá-las ao vento, nosso único cúmplice nessa hora.
Adoro a aura dramática dos seus textos.
Ótima semana e até breve.