sábado, 30 de abril de 2011

Era ela a onipotência*



E ela tinha aquela fragrância que a nada se assemelhava. Uma mistura de cheiro de pele, de suor, de feminilidade, era simplesmente o seu cheiro, sua essência. Era um perfume sem precisar de um próprio para usá-lo, porque o aroma que emanava de sua pele foi o mais suave olor que ele já sentira, estava embriagado.
Ela por sua própria imagem já era êxtase para os olhos de homens embasbacados com a sua beleza exótica, mas o seu cheiro criava neles asas e os interpunham a ter sonhos com ela, sonhos em que porventura tocavam a sua pele, roubando o seu cheiro que ficava em suas mãos e em suas roupas, deixando-os sufocados.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Céu e Inferno*


E quando seus olhos sobre mim repousar não sabereis mais distinguir o que é céu e inferno.
Porque só tu me elevas e me rebaixa.
Me acende e me apaga,
Chama-me e em seguida me rejeita.
Só na cama que tu me amas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Oh, Mundo Cruel!


Quem olhar os meus olhos agora não verá seu brilho intenso, apenas verá o rastro do que fora um dia a vivacidade contida neles. E eu não posso deixar a tristeza levar para o fundo do mar a minha essência, de tão profundo que já não sei mais quem sou. Oh mundo cruel!

sábado, 16 de abril de 2011

A menina que não tinha história*


E ela fora uma menina que não tivera história. Na época que estudava na escolinha sempre sentava-se sozinha porque nunca tinha história para contar aos seus amiguinhos. E em todas as segundas-feiras os seus coleguinhas de classe reuniam-se na hora do recreio todos falando ao mesmo tempo o que fizeram no final de semana, maior algazarra.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Fel na boca*


E a tua boca tem aquela docilidade que não se encontra na mais delicada fruta.
E quanto mais os meus lábios provam dos teus, do teu sabor,
Mais sinto-me hipnotizada, eletrizada por você.
São seus beijos, beijos que atormentam.
Fazem-me cambalear, sem saber pra onde ir, mas no fim o caminho sempre me leva até você
Visto que eu sinto de longe o teu cheiro, a tua essência
Mesmo que tu sejas profano, indecente, descrente, imponente.
Mas os teus beijos, sim, os teus, somente os teus fazem-me sentir assim.
E tu me torturas, me provocas, me acende, me prende
E depois manda-me ir pra casa, agora, com gosto amargo, fel na boca.

sábado, 9 de abril de 2011

A música de nós dois*


Ela estava agora ouvindo aquela música, rememorando. Já havia passado tanto tempo. Lembrou-se do sorriso feliz dele quando ela colocava a música que acalentava a alma dos dois, e aquela canção tinha o dom de os fazerem cantar, e cantavam alto, cantavam a música deles. Tão minha quanto sua, ela era deles, pensava ela. E estavam no carro dele ouvindo-a, sentindo-a. Olhavam-se com olhos de amor como se aquela fosse a primeira vez que eles se viam.  E para ela depois de tanto tempo ao ouvir aquela música outra vez  era como se ela  estivesse no mesmo lugar em que eles encontravam-se no passado e observasse os dois dentro do velho carro dele ouvindo a música de ambos. Ela olhava triste, no presente, o sorriso deles que morrera, nunca mais vira aquele brilho em seus olhos que dantes nada ofuscava e agora apagado estava. Onde foi que se perderam? Onde os nossos sonhos ficaram, será que pararam no tempo? Ou se apagaram de nossa memória? Gostaria de saber se eles se perderam da memória de ambos, pegaram um desvio, mas não se sabia, impossível saber. Mas ela estava petrificada a observar-lhes, ao ver o que fora antes. Seu cabelo mudara, seu modo de vestir, sua maneira de falar, já não era a mesma, o que acontecera? Onde ela pode ter errado? Não sabia se era triste ou feliz, mas ainda prendia a respiração ao ouvir aquela música, a música de nós dois que a levara de volta ao passado. Por uma fração de segundos ela pensou em ir até lá onde eles se encontravam e dizer pra ela: não mude. Mas sabia que não poderia alterar o que já passou, ela ainda não sabia porque precisara mudar, mas mudara. Sabia-se apenas que seu riso ficara congelado no passado ali dentro do carro dele. Voltou a si, não sabia quando começara a chorar, porém agora as lágrimas não tinham fim. Queria gritar, mas perdera a voz, ela se perdera. Desligou o rádio que tocava a música de nós dois, mas as lágrimas ainda teimavam em descer, não a deixavam pensar com clareza. E para esquecer ela se escondeu onde ninguém poderia encontrá-la nem ela mesma, no país dos sonhos. Dormia profundamente, agora. Amanhã nem se lembraria do que fora o hoje, mas a música, a música de nós dois ainda existia.

domingo, 3 de abril de 2011

Não preciso me mostrar'


Não preciso me mostrar para dizer quem sou.
O que os meus olhos transmitem já são o suficiente.
Eles passam a ti o que tu precisas saber, o bastante.
A mensagem que passo através deles mostra-te toda uma vida.
E, se tu olhares para trás verás todas as minhas pegadas na areia, nunca parei no meio do caminho.
Estou sempre seguindo rente, em frente, levando e tirando de minha trilha tudo que me afeta, me desata, me consterna, me abala.
Sou o que tu vês, não preciso falar de mim, não preciso me divulgar.
Não avanço o sinal, paro, espero, e ainda reflito, todo o caminho precisa de reflexão, nunca paro na contramão, acelero depois.
Acompanhe-me, se puder.
Sou o que sou, apenas sou, não deixo de sê-lo.
E meus ideais são o bastante para mim, sei o que é bom, por isso dou sempre o meu melhor.
Mas não preciso falar de mim para tu saberes quem sou, se quiseres saber sobre mim vem comigo na minha estrada que tu entenderás todo o meu conceito, lerás comigo o livro da minha vida, se possível, saberás mais de mim do que eu sei. Mas para isso acontecer precisas me acompanhar, meu caminho é longo e irei precisar de companhia, mas não sairás de minha boca uma palavra, um sussurro, uma exclamação sobre a minha pessoa, todavia tu irás entender quem sou. Saberás, então, que sou apenas um pássaro livre, a brisa que vem do oceano, a chuva que cai, o rio que encontra o mar, a água que agora mata a tua sede, essa sou eu, entretanto de mim não ouvirás uma palavra, um sussurro, uma exclamação sobre a minha pessoa.
Porque não preciso me mostrar para dizer quem sou.
O que os meus olhos transmitem já são o suficiente.