sexta-feira, 13 de maio de 2016

Interior



Ela não sabia se olhava para a cidade ou para o seu interior
Porquanto ele estava seco, não havia vegetação, uma água sequer, uma gota sequer

E a cisterna era profunda, tão profunda, que podia ver as rachaduras
Nas quais nascia uma flor, sim, uma flor amarela solitária

A viu e a esperança ressurgiu

A partir daquele dia, ela ia molhá-la com um pouco d’água em todas as tardes
Tinha sede, mas dividia
Tinha fome, mas de companhia
E a flor tornou-se a sua expectativa de vida, de chuva

Mas um dia a água secou, nada tinha, uma água sequer, uma gota sequer, tanque cavo
Mas ainda assim ela foi
Foi de copo vazio, de sorriso fastio e tamanho pesar

E o sol a brilhar, tão cálido, tão quente, a queimar-lhe, queimava-lhe as pétalas
Até não restar uma pétala sequer

Então, a flor pereceu
E a sua espera, esperança

Ah, Ela não sabia se olhava para a cidade ou para o seu interior

Mas o seu interior estava vazio e com pesar ela partiu
Sem olhar ao menos para trás
Sim, a cidade trazia esperança, de chuva, de umidade, de toró toda a tarde

Contudo ela, eterna criança, permanecia nas terras quentes do sertão
A orar;
Vivia em oração!

E no seu coração ela escolheu: Disse sim ao Interior

Aquele seu, só seu, de cisternas cheias e dias cálidos.

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