Em busca de si mesma*

E ela andava sem rumo, sem caminho certo. Nada ouvia, nada sentia, nada enxergava pela frente. Em certo momento ouviu apenas o uivo do vento, fino, gélido, confortante. Olhou para suas vestes que não passava de um velho vestido rasgado que não matava-lhe o frio do dia, que ora ela não sentia. Nada calçava nos pés, admirava as brocas que encontravam-se fundas neles, mas olhava como quem nada via. Não podia sentir mais dor, pois nenhuma se aproximava daquela que carregava dentro do peito, este estava pesado como nunca estivera, um peso que guardava os seus anseios que ela não mais sustentava.

Deixava o rastro do sangue que escorria de seus pés pelo chão, uma trilha. Enquanto existisse sangue nas suas veias a terra seria marcada, era a sua penitência. Em certo momento do caminho ela rasgou parte de seu vestido e fizera dele curativo que amarra em seus pés. Sentia, agora, fortes dores, agonia proveniente do seu peso, dos seus pés, do coração, contudo nada a poderia deter, só ela mesma. Estava em busca de si mesma, do que fora, do que ainda queria ser. A isso podia dar-se o nome de fuga. Estava fugindo do que era agora, queria encontrar-se a si mesma, o que fora um dia. E continuou seu longo caminho... não por muito tempo.

Se você seguisse em frente, rente, não veria mais seu sangue manchando a areia abrasiva daquela terra desnivelada, cheia de brocas e de pedras dispostas a machucarem-te. E se seguisse adiante a encontraria caída com olhos fúnebres e com uma marca d’água que tivera fonte de seus olhos, que porventura corroia a pele bonita ainda quente de seu rosto. Ainda estava viva, sobreviveria. Só não sabia-se se ela realizara o seu intento, limpavam-lhe agora as feridas.

A busca continuaria, se é que um dia terá um verdadeiro fim.