Há dias que ela sentia-se seguida, grandes olhos azuis poderosos a perscrutavam, indagavam-na.
Numa manhã fria de setembro ela corria contra o tempo, estava atrasada, perdeu o ônibus das 07:00 h e por isso preferiu ir andando a ter que esperar o próximo que só passava às 08:00 h. Apertou bem o casaco, pois fazia muito frio e seguiu o seu percurso. Em certo ponto do caminho sua mente estava em burburinho, perdida em pensamentos, atravessou a rua sem olhar para os dois lados e por pouco não morreu atropelada. A causa de ela não ter morrido eram aqueles grandes olhos que a dominavam. A morte era menos ameaçadora diante daquela visão, diante daquele olhar escarnecedor. Ele foi-se embora a passos largos sem nada dizer-lhe. Chegou ao trabalho ainda no horário, sentou-se em sua mesa, ligou o computador e começou a trabalhar sem comentar o ocorrido para ninguém, era melhor assim.