A Fogueira*

Ana olhava para frente e só via o passado, nada além do passado. Ainda podia sentir o seu toque queimando sua pele, causando fricção por onde suas mãos passavam, incendiando, doce incêndio. E a sua boca macia a beijar-lhe, os mais doces beijos que um dia provara.

Ah, aqueles pequenos olhos somente a viam, como ninfa, e achavam-na a mais bela, e era sua, a Ana um dia fora sua, somente sua.

Mas a cada passo que andava, a cada dia que passava, a cada noite que levantava ele ficava para trás, ela ficava pra trás e o passado passava; sem parar.

Hoje Ana andava sem nada ver, somente sorria e chorava as lágrimas passadas; do passado.

Todavia, ao olhar pra dentro, bem fundo, ela ainda podia ver, como se no presente fosse, aquele canto da cidade reservado somente para eles, com beijos flutuantes, sorrisos sinceros e aquele amor puro que nunca apagara, ainda aceso como brasas; da fogueira que um dia fora.