sábado, 9 de abril de 2011

A música de nós dois*


Ela estava agora ouvindo aquela música, rememorando. Já havia passado tanto tempo. Lembrou-se do sorriso feliz dele quando ela colocava a música que acalentava a alma dos dois, e aquela canção tinha o dom de os fazerem cantar, e cantavam alto, cantavam a música deles. Tão minha quanto sua, ela era deles, pensava ela. E estavam no carro dele ouvindo-a, sentindo-a. Olhavam-se com olhos de amor como se aquela fosse a primeira vez que eles se viam.  E para ela depois de tanto tempo ao ouvir aquela música outra vez  era como se ela  estivesse no mesmo lugar em que eles encontravam-se no passado e observasse os dois dentro do velho carro dele ouvindo a música de ambos. Ela olhava triste, no presente, o sorriso deles que morrera, nunca mais vira aquele brilho em seus olhos que dantes nada ofuscava e agora apagado estava. Onde foi que se perderam? Onde os nossos sonhos ficaram, será que pararam no tempo? Ou se apagaram de nossa memória? Gostaria de saber se eles se perderam da memória de ambos, pegaram um desvio, mas não se sabia, impossível saber. Mas ela estava petrificada a observar-lhes, ao ver o que fora antes. Seu cabelo mudara, seu modo de vestir, sua maneira de falar, já não era a mesma, o que acontecera? Onde ela pode ter errado? Não sabia se era triste ou feliz, mas ainda prendia a respiração ao ouvir aquela música, a música de nós dois que a levara de volta ao passado. Por uma fração de segundos ela pensou em ir até lá onde eles se encontravam e dizer pra ela: não mude. Mas sabia que não poderia alterar o que já passou, ela ainda não sabia porque precisara mudar, mas mudara. Sabia-se apenas que seu riso ficara congelado no passado ali dentro do carro dele. Voltou a si, não sabia quando começara a chorar, porém agora as lágrimas não tinham fim. Queria gritar, mas perdera a voz, ela se perdera. Desligou o rádio que tocava a música de nós dois, mas as lágrimas ainda teimavam em descer, não a deixavam pensar com clareza. E para esquecer ela se escondeu onde ninguém poderia encontrá-la nem ela mesma, no país dos sonhos. Dormia profundamente, agora. Amanhã nem se lembraria do que fora o hoje, mas a música, a música de nós dois ainda existia.

Um comentário:

  1. Nossa, muito bom. Falou de forma bela e certa sobre mudanças, lamentação de um passado ser passado.

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